O livro conta a história de Charlie e Kellan, através de uma narrativa completamente envolvente. Duas pessoas que tinham tudo pra dar certo mas que aparentemente não eram certas uma para a outra. Algo que me chamou atenção foi que história toda se desenvolve através de uma carta escrita pela Charlie para o Kellan, no qual em cada capítulo ela cita uma razão pela qual ela começou a odiá-lo. E ao escrever a carta, Charlie nos conta sobre todos os momentos que eles passaram juntos, brigas, beijos e o fim. Charlie e Kellan foram os personagens que mais me abalaram emocionalmente, eles são tão reais que podem ser facilmente confundidos com os casais da vida real. O livro é intenso, daqueles que você não consegue largar até que a última frase seja lida. Porém, não para por aí, o livro conta com uma continuação, que foi lançado ontem na Amazon e nada mais é que o ponto de vista do Kellan sobre o relacionamento. Sendo assim convidei a Fla para compartilhar aqui a sua opinião sobre o segundo livro da série, opinião essa que eu concordo e assino embaixo.
"Em última análise, parece-me que devíamos ler apenas livros que nos mordam e firam. Se o livro que estamos a ler não nos desperta violentamente como uma pancada na cabeça, para que nós havemos de nos dar o trabalho de o ler? Um livro tem que ser como a picareta para o mar gelado dentro de nós. É isto que penso.“ (Franz Kafka)
Nem me lembro qual foi a primeira vez que li a frase acima, ou quando ela se tornou meu parâmetro de classificação quando se trata de novas leituras, mas é assim. Toda vez que começo um livro novo, me pergunto: "este livro está me despertando como uma pancada na cabeça?" se a resposta for não, raramente continuo lendo.
A históra de Charlie e Kellan me fez sentir exatamente assim, desde o começo, como se tivesse levado um pancada na cabeça. A mistura de uma escrita envolvente com personagens tão intensos costuma ter esse resultado comigo, portanto não demorou muito para me sentir totalmente arrebatada, tanto que sai indicando o livro para todas as pessoas possíveis.
Trata-se de uma duologia, o primeiro volume ("Com amor, Charlie"), do ponto de vista da protagonista feminina, e o segundo ("Com amor, Kellan"), com a versão do protagonista masculino. Até aí não parece nada de novo, certo? Errado! A narrativa é em formato de carta, e conta a história de um relacionamento que já acabou (não é spoiler, isso é facilmente identificado), e desde o primeiro capítulo eu soube que seria daqueles livros que nos faz querer sair gritando "COMO ASSIM, UNIVERSO?", aos quatro ventos, e não me enganei. Ou pelo menos achava que não tinha me enganado. Não me entendam mal, continua sendo uma das minhas leituras mais marcantes dos últimos tempos, talvez por puro masoquismo, e é por isso que decidi escrever o que vem a seguir.
Ontem, finalmente, foi lançada a versão final de "Com amor, Kellan" e, curiosa que sou, não pensei duas vezes antes de comprar o e-book e começar uma maratona de leitura, sabendo desde o começo que eu só pararia quando lesse a última palavra escrita, e sabe o que aconteceu? Eu detestei, de todas as formas possíveis! Finais felizes são meus favoritos? SIM! Mas não tenho nada contra finais antagônicos, desde que façam sentido! E o problema aqui é esse, o final não faz o menor sentido.
Vejamos a questão cronológica (a partir daqui vai ter spoilers, mas é pelo bem do esclarecimento): a carta de Charlie foi escrita 4 anos após o fim, com o objetivo de colocar um ponto final no que a atormentava, e nesta época ela tinha 23 anos. Quem leu o primeiro volume sabe que, com tudo o que ela escreveu, as coisas não estavam nem de longe finalizadas. Aí veio o segundo volume, com a carta de Kellan, e o esperado reencontro dos dois, que na narrativa acontece 9 anos após a ultima vez que se viram (o que deixa os protagonistas com aproximadamente 28 e 30 anos, respectivamente). Neste momento descobrimos que Charlie está noiva e tem uma filha de 3 anos, o que não seria necessariamente um problema, afinal a vida segue não é mesmo? Não sou nenhuma Poliana e sei bem disso, mas a questão aqui é o desenrolar dos fatos, que é totalmente cru e sem nexo. Veja bem, para que a protanogista tenha uma filha de 3 anos aos 28 anos, ela deu à luz aos 25, o que signifca que ficou grávida por volta dos 24 anos. Isso é apenas um ano após ter escrito a carta, e a autora realmente quis nos convencer que a protagonista cheia de medos de se entregar e totalmente egoísta (sim, Charlie soube ser bem covarde), realmente se apaixonou e engravidou no intervalo de um ano? Com um cara aleatório que ela conhecia de um bar? (cara este que, por sinal, tem muitas características do protagonista, até chama ela pelo mesmo apelido)? APENAS NÃO! Não bastasse isso, percebemos que o Kellan, que na minha opinião foi quem mais sofreu nessa história toda, não tem o final merecido e, NOVAMENTE, sabemos que na vida real muitas vezes é assim, mas sinceramente um livro tão bom não merecia um fim tão fraco.
A autora se deixou levar por um caminho clichê, em que uma pessoa realmente só é feliz se estiver casada e com filhos antes dos 30, e essa foi sem dúvidas a parte mais decepcionante, pois os personagens mereciam mais do que isso. Aí você pode me perguntar: "clichê não seria um final feliz entre os dois?" talvez. Mas faria muito mais sentido, pelo decorrer da narrativa, demonstrar um amadurecimento dos dois, do que este fim desnecessariamente dramático, com intuito de despertar a famosa lição de que "o amor nem sempre é suficiente", o que deixou muito a desejar.
Nos resta criar um final imaginário alternativo, ainda bem que mentes criativas têm o poder de modificar narrativas decepcionantes.
Se você você se interessou pelos livros, eles podem ser encontrados na Amazon ou no Kindle Unlimited.
Até a próxima.